1) Escolha quem, por formação profissional, tem melhores condições de entender o que é a administração de uma cidade. Essa pessoa, provida de alguns conhecimentos técnicos, avaliará melhor o trabalho de seus colaboradores e não precisará "comer pela mão" dos subordinados. E em caso de divergência entre estes - coisa que tanto emperra o trabalho administrativo - saberá optar, com rapidez (em razão da experiência e vivência de linguagem), por quem tenha base mais sólida de argumentação. Procure saber onde estudou, que aulas freqüentou e em que consistiu seu trabalho profissional antes de entrar na política. E se já exerceu o cargo que disputa, investigue se teve a lucidez, a humildade e o escrúpulo de continuar as obras alheias, colocando, assim, o interesse público muito acima das banais competições por autoria.
2) Escolha quem melhor demonstrou, em sua vida pessoal ou em seu relacionamento privado, a qualidade essencial da lealdade. Pois a semente da lealdade cultivada em casa não se desfigura quando plantada na praça. Em termos mais claros, quem já se acostumou a trair em casa tem bem maiores probabilidades de trair na rua.
3) Escolha quem soube melhor defender e livrar o espaço público de várias formas de apropriação privada, quem não foi complacente com invasores do bem de todos e teve coragem de combater os que fazem de suas atividades um sistemático desrespeito às leis, tais como o comércio de produtos contrabandeados ou pirateados, ou provenientes de receptação de roubo de cargas, ou os falsificados, que até podem pôr em risco a saúde e a vida das pessoas.
4) Não escolha quem se permitiu a torpeza de tentar explorar o preconceito do povo, por meio de insinuações, especialmente se estas correspondem, exatamente, a intolerâncias que sempre se combateu - como se tudo o que se pregou em favor da diversidade não passasse de uma tremenda farsa ideológica, apta a capturar votos de incautos .
5) Em outras palavras, não escolha quem se desespera ante uma perspectiva de derrota - mesmo se acachapante - e se dispõe a permitir quaisquer tipos de estratégias para prejudicar o adversário que está em vantagem, mesmo que isso represente uma profunda contradição em relação ao que se procurou demonstrar em toda uma vida pública. Porque eleição não é tudo, não chegar ao poder não é uma tragédia que justifique uma nódoa ética indelével na trajetória política.
6) Não escolha quem atribui a outros a responsabilidade por seus próprios erros. E muito menos escolha quem demonstra não ter tido controle sobre sua própria campanha eleitoral. Pois quem não teve condições de controlar sua própria campanha, liderando da melhor forma seus colaboradores para enfrentar suas dificuldades - mesmo que enormes, inamovíveis -, não terá condições, também, de controlar a administração de uma cidade, onde as dificuldades a serem enfrentadas serão muitíssimo maiores.
7) Não escolha quem joga na imprensa - para variar - toda a responsabilidade pelos eventuais disparates, despautérios e parvoíces que proferiu. Este é o escape mais fácil de quem pode valorizar o espírito democrático da boca para fora, mas, no fundo, transita melhor nas franjas do autoritarismo. Além do mais, não é a imprensa que detém o controle da massa cinzenta e da bílis das pessoas públicas - embora possa detectar o momento e o processo de sua deterioração.
8) Não escolha quem brigue com os números e a verdade dos fatos, como é, por exemplo, a contestação, com base apenas na impressão pessoal que diz ter captado nas ruas, dos resultados de pesquisas de opinião realizadas por instituições reconhecidamente idôneas. Pois uma visão desse tipo é primitiva, pré-científica, não incorporando ao discurso político os métodos de aferição estatística indispensáveis a quaisquer avaliações, sejam econômicas, sociais, políticas ou culturais.
9) Não escolha quem teve a campanha punida pela Justiça Eleitoral, por ter quebrado princípios elementares de civilidade na disputa, rebaixando, assim, os valores éticos do processo eleitoral, fazendo os debates descerem ao baixo nível - o que apenas estimula a repulsa que os jovens, nos dias de hoje, costumam sentir em relação à atividade política. Afinal, nossa Justiça Eleitoral já provou que entende das coisas.
10) Escolha quem soube deixar a cidade mais limpa, quem combateu com mais eficiência todas as formas de poluição (visual, aérea, residual, sonora), aumentando, assim, o respeito dos cidadãos à sua própria cidade, o que é a base elementar de todo o comportamento urbano civilizado; escolha quem conseguiu fincar e reforçar os alicerces da melhor construção social, priorizando, efetivamente (não só nos discursos e maquetes), a saúde, como alavanca de bem-estar das atuais gerações, e a educação, como alavanca de sobrevivência das futuras.
11) Escolha quem lhe pareça ter a cara mais limpa, menos artifícios gestuais, assim como a expressão e os olhos que dão a impressão de estar mais impregnados de sinceridade. Não escolha quem, mesmo fazendo um penoso esforço para não parecer arrogante, não consegue deixar de parecer arrogante, o que lhe confere total probabilidade de ser, de fato, arrogante.
12) Não escolha quem aceite, em seu benefício eleitoral, a exploração de qualquer religião, especialmente a abjeta distribuição de panfletos políticos nos templos, o que significa profundo desrespeito à dignidade da fé religiosa e de tantos quantos a professam.
13) Vixe.
Estadão - Mauro Chaves No Blog Dois em Cena