Depois de Juanes
Amanhã amanhecerá como cada segunda-feira. O peso conversível continuará nas nuvens, Adolfo e seus colegas terão outro dia atrás das grades na prisão de Canaleta, meu filho ouvirá na escola que o socialismo é a única opção para o país e nos aeroportos continuarão nos pedindo uma permissão para sair da Ilha. O concerto de Juanes não haverá mudado significativamente nossa vida, porém tampouco fui à Praça com essa ilusão. Seria injusto exigir do jovem cantor colombiano que impulsione aquelas mudanças que nós mesmos não conseguimos fazer; apesar de desejá-las tanto.
Estive naquela esplanada para comprovar quão diferente pode ser um mesmo espaço quando hospeda concentrações organizadas desde cima ou quando abriga um grupo de pessoas necessitadas de dançar, cantar e interagir, sem a política no meio. Foi uma experiência rara estar alí, sem gritar uma palavra de ordem e sem ter que aplaudir mecânicamente quando o tom do discurso mostrava que era o momento de ovacionar. Claro que alguns elementos se pareciam com os de qualquer marcha de primeiro de maio, especialmente a proporção de policiais vestidos de civis no meio do público.
A cadeira vazia de Adolfo será o território mais livre de nossa improvisada mesa natalina.
O kitsch ideológico
Os rostos que se vêem neste pequeno comércio, são para muitas pessoas - fora de Cuba - parte da contracultura com que se enfrenta o status quo. São os emblemas aos quais alguns apelam na intenção de mudar o que não gostam nas suas respectivas sociedades. Porém nesta Ilha ocorre justamente o contrário, esses que nos olham a partir dos cartazes e das camisetas são - para nós - os que criaram a atual ordem de coisas, os gestores do sistema em que vivemos desde há cinquenta anos. Como portar alguns destes símbolos sem ter a sensação de que se está assumindo a cultura do poder, os emblemas dos que mandam?
Escrito por: yoani.sanchez en Geração Y