sábado, 11 de abril de 2009

Acorda meu Povo em Itacaré- Bahia

Dez anos depois da urbanização da polêmica rodovia BA 001, que cortou florestas entre o município de Ilhéus e Itacaré, já é possível fazer uma avaliação de seus impactos e resultados sócio-ambientais, e esta é uma importante linha de pesquisa para alinhavarmos quais práticas são sustentáveis para o desenvolvimento sustentável no Sul da Bahia.

A questionada "estrada ecológica" construída pelo PRODETUR, mediante compensação ambiental, numa atuação precisa da ONG ambientalista IESB, trouxe um ganho ambiental importante: a criação do Parque Estadual da Serra do Condurú, marco fundamental para um Sistema de Unidades de Conservação do Sul da Bahia.

Se o Parque foi um marco da conservação, a estrada, que também abriu essa porta, tornou-se a referência principal da primeira década de desenvolvimento intensivo do turismo no Sul da Bahia. Nesse período, como nunca antes, Ilhéus e Itacaré tornaram-se um destino procurado, conhecido e frequentado, inclusive por uma seleta constelação de cecelebridades nacionais e internacionais.
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Entre Ilhéus e Itacaré, a estrada passa pela Vila de Serra Grande, distrito do município de Uruçuca, e aí temos uma paisagem que é pura reflexão. Muito temos a refletir sobre o nosso futuro, quando nos deparamos com o o manto verde da Área de Proteção Ambiental do entorno do Parque Estadual da Serra do Condurú, num ambiente recordista mundial de diversidade de árvores, onde o forte azul do mar declara o bom estado de conservação da plataforma marítima.
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Itacaré atraiu um empresariado interessado na conservação florestal para manter seus negócios com o turismo, mas trouxe consigo outros fantasmas, como a privatização. Do ponto de vista da conservação florestal, a estrada parece ter sido boa pra Itacaré, pois no trecho ilheense, ocorre uma explosiva pressão urbana ao longa da estrada, registrando recorrentes agressões, como denunciamos em nossa reportagem Estrada Ilhéus-Itacaré: Dez Anos Depois.

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Mas a sustentabilidade do desenvolvimento não pode ser avaliada apenas pela conservação dos ecossistemas, mas pelo conjunto sócio-ambiental e econômico regional que se dissolve na paisagem. Ser verde por aqui é fazer justiça social com responsabilidade ecológica, o que requer lideranças públicas comprometidas e um senso ético comum.

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Itacaré é um dos poucos municípios brasileiros onde a campanha Desmatamento Zero atingiu êxito. A opção social pela floresta e pelo verde é perceptível e é por isso que a pequena cidade está se consolidando como referência internacional para o turismo ecológico. Mas a sustentabilidade dessa paisagem, depende, em grande parte da superação da pobreza e da exclusão social.

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Itacaré cresceu, mas alterou muito pouco sua vocação verde. No entanto, dez anos depois de tanta fama e badalação de luxuosos Resorts, a cidade recebeu pouquíssimos investimentos em sua estrutura. Até mesmo o passeio da avenida principal permaneceu igual, e só recentemente teve um tímido recapeamento de cimento.

Não podemos aceitar o nível investimentos públicos realizados nos anos pós-estrada, em políticas essenciais de infra-estrutura, incluindo-se aí um sistema de licenciamento e fiscalização mais eficiente.

O turismo sustentável nesse postal do verde atlântico precisa ser inclusivo, e ser um portal de valorização da cultura e tradições regionais, pois Itacaré é uma referencia para as comunidades tradicionais de pequenos agricultores, extrativistas, quilombolas e pescadores. A vocação indiscutível para o turismo e a conservação estão se tornando aliados da melhoria da qualidade de vida dessas populações.
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Nós acreditamos, que a integração dos nativos no que podemos denominar "Projeto Itacaré" pode servir de referência para o turismo sustentável do Sul da Bahia, e essa integração depende do diálogo permanente entre Nativos e Visitantes, ONG´s e Empresas, Governo e Comunidade.
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A OBRA QUE NÃO DEVIA TER SIDO LICENCIADA

As vezes, os governantes têm boas ideias, mas, por falta de uma boa acessória técnica - e diálogo, executam a boa ideia sem um planejamento correto. Assim, a prefeitura de Itacaré com recurso do governo federal (Prodetur - Projeto Orla), projetou centros de artesanato, cuja execução resultou em um grande equívoco.

A construção, agredindo o principal monumento arquitetônico da cidade, a Igreja Matriz de São Miguel e conjunto de casarões do século XVIII, que ainda se encontram em fase de tombamento definitivo, resultou em diversas ações no ministério público e no embargo da obra, que se traduz em perda de tempo e prejuízo.
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Embargada desde Julho de 2008 pelo Ministério Público e pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), à partir da ação da sociedade civil organizada, a obra deveria ter sido discutida com a comunidade, antecipadamente, e não poderia ter sido aprovada pelo Governo Federal.
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Já a arborização das ruas com espécies nativas foi uma ideia bem executada, até mesmo os jardins de tal obra embargada, especialmente aqueles pés de cacau, tão pouco utilizados em arborização urbana. A arborização urbana com espécies nativas sinaliza para o que pode ser muito bom em Itacaré, ser verde com justiça social e qualidade de vida para todos.